terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Ira Açu"= do nhengatu Gavião Grande. Essa imagem representa o gavião. Observe atenciosamente a silhueta da pedra, é de uma ave de rapina. Essa pedra fica na Terra Indígena Médio Rio Negro II, no município de
Santa Isabel do Rio Negro/AM. Duas horas de viagem da sede do município. É um dos atrativos turísticos da região.

Autor Elio Fonseca Pereira

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Uma pesca. Uma onça da Amazônia

Um dia sai para pescar por volta das oito horas. Atravessei o Rio Negro e comecei a pescar. Ainda não havia pescado nenhum peixe, quando ouvi cães latindo em sinal de caçada. Passado uns trinta minutos, vinha um rapaz da vizinhança, demonstrando estar assustado. Se aproximou e me falou que os cães estavam caçando a onça e que ela teria entrado no oco de uma grande árvore caída e que os cães estavam viagiando para que ela não saisse. Me fez o convite para matar a onça. Achei que deveria lhe acompanhar. Aceitei e fomos até o lugar em que a onça estaria. Ao chegarmos lá o desafio estava como fazer para matar a onça que estava dentro do oco de pau. Os cães não podiam entrar, seriam vítimas da onça! Puxar pelas patas, seria idéia maluca! Resolvemos fechar a saída com folhas! Começamos fazer alguns buracos ao longo da árvore na tentativa de localizá-la. Ao fazer o primeiro, ela não estava. No segundo também, ela não estava. Ao tentar o terceiro ela começa a aparecer nos outros buracos. Em alguns momentos ela desaparecia. Pegamos uma vara e começamos a provocar o animal. Ela ficava brava! O tempo ia passando. O plano não estava dando certo. Até que tivemos uma idéia: vamos tirar as folhas da saída da árvore! Ela poderia sair e seria o momento de matá-la. Um daria o tiro na hora em que ela saísse e outro com vara deveria espantá-la para que saísse. Quem iria dar o tiro na saía? O meu colega disse que ficaria para dar o tiro. Eu fui cutucar a onça com a vara para que ela saísse. Lá vai! Atenção. Tudo engatilhado! O que a gente não tinha idéia era da fúria da onça! Ela estava muito estressado dentro da árvore! E a expectativa era grande! A onça saiu em centésimos de segundos que o atirador não teve tempo de apertar o gatilho. Por sorte ela não devorou o atirador. Os cães continuaram a caça-la. Mas a alguns metros na selva ela devorou um dos cães e os cães desistiram da caçada.


Voltei para minha casa sem a caça e sem os peixes! Mas foi um dia muito divertido! Para não dizer de muito medo!



Essa história foi vivida por Arismar Cruz da Comunidade Indígena de Massarabi, Terra Indígna Médio Rio Negro II, município de Santa Isabel do Rio Negro/Amazonas-Brasil. Escrita por mim



Elio Fonseca Pereira

Impactos, Desafios, Vitórias em São Paulo.

Este País é tão imenso! Há grande probabilidade de se transformar, se quiser, num dos países poderosos do Planeta. No entanto, há alguns obstáculos a serem superados. Que podem ser as distâncias ou as diferenças culturais. O que vou evidenciar aqui é o fator cultural. Eu estou há 14 meses morando na grande São Paulo. Morar, visitar, trabalhar, estudar, viver em São Paulo é sonho de muitos brasileiros. Independentemente de ser pobre, negro, indígena ou marginalizado. Toda formação educacional tem levado a este sonho. Depois de 14 meses, posso, relacionar alguns impactos, desafios e vitórias ocorridas em minha vida.
Esta grande cidade tem muita coisas boas, muita riqueza, muitas obras dos seres humanos, é maravilhoso. Mas ela é cruel! Nos pés da riqueza está a pobreza. Na minha cidade no Amazonas, não tem, até esta data ninguém pedindo esmola! A quantidade de veículos é impressionante. O ritmo, a quantidade de pessoas é impressionante. É outro mundo!
Têm muitas memórias guardadas em museus! O que se aprende na história do Brasil, podem ser vistos aqui. O que não se vê muito são as imagens de negro e indígenas que tanto contribuíram para o enriquecimento dessa cidade. Foi preservado muitos nomes de lugares, ruas, prédios em língua indígena.
Para mim que vim de um lugar onde passa um Rio, rodeado de verde infinito o impacto é muito grande. Lá o ritmo é mais lento. Aqui você não pode parar no meio da rua para conversar. Se acontecer isso, você é pisoteado por centenas de pessoas que precisam correr.
Nós indígenas somos recohecidos pela aparências físicas e a linguagem. Em outras palavras, o indígena é inconfundível. A gente tem que aprender a lhe dar com essas diferenças! Aqui eu nunca fui discriminado, tenho bons relacionamentos. Eu gosto de São Paulo. Adoro Santa Isabel do Rio Negro.
Estou apreendendo a viver em São Paulo. Muito embora ainda morrendo de saudade da minha cidade. Aqui estão as grandes universidades do Brasil, os Bancos, ... tem tudo o que se imagina! Lá onde moro não tem nada disso, mas, o ambiente natural ainda é noventa por cento intacta. Se o ambiente é a riqueza, nossa cidade também é rica. Riqueza numa outra dimensão!
Espero ter exposto os impactos, desafios e vitórias da minha estadia na grande cidade de São Paulo.

Autor

Elio Fonseca Pereira